Notícia  /  09.12.2024
A origem da família de Coubertin, inicialmente família dos Fredy, remontante ao século XV, constituiu o ponto de partida para a comunicação de Alexandra de Navacelle de Coubertin sobre a vida e a obra de Pierre de Coubertin, numa alocução sábado, 7 de dezembro, durante a sessão comemorativa do 38.º aniversário da Academia Olímpica de Portugal. Para a sobrinha-bisneta do fundador do Olimpismo moderno, os pais de Pierre foram marcantes na sua formação intelectual e no interesse cultural que veio a revelar e que o levaram a empenhar-se na obra de restabelecimento modernos dos Jogos Olímpicos da antiguidade grega. A erudição da mãe e a veia artística do pai desempenharam aí papel de relevo, apesar de Pierre de Coubertin, mais tarde, não ter querido seguir a carreira militar e diplomática que lhe estaria reservada, optando por canalizar as energias e os projetos (além das finanças) para a concretização do grande sonho olímpico.
Alexandra de Coubertin assinalou que, não tendo Pierre de Coubertin descendência para lá dos dois filhos (Jacques e Renée), a linhagem dos Coubertin acabou por ter continuidade através da irmã Marie, de quem existem atualmente mais de trinta descendentes. No entanto, a obra reconhecida é a de Pierre, que serve de inspiração à Associação dos Familiares de Pierre de Coubertin, criada em 2016 com com a missão de dar expressão à convicção do patrono de que a educação, o desporto e a excelência moral são a base em que assenta o desenvolvimento da sociedade.
Ao longo da exposição, Alexandra de Coubertin sublinhou a herança do herói esquecido, traçou dele uma caracterização baseada na relação de Coubertin com o seu tempo, descreveu os passos e as dificuldades principais no processo de restabelecimento dos Jogos Olímpicos, referiu a decadência económica do barão e deu ainda nota das controvérsias à volta da personalidade de Coubertin. No final deixou uma das frases de referência de Pierre de Coubertin: «O Olimpismo destrói os muros que separam. Clama por ar e luz para todos.»
Entretanto, a sessão de aniversário tinha tido outro momento de maior relevância na atividade da AOP durante o ano de 2024: a apresentação do livro «366 1 Curiosidades Olímpicas», obra coordenada e ali apresentada por José Esteves e que representou a conclusão do Programa Cultural Olímpico 2024. A obra compõe-se de 366 textos (um por cada dia de ano bissexto, como é o de 2024) contando histórias curiosas sobre a história mais ampla dos Jogos Olímpicos (antigos e modernos), umas mais conhecidas, outras menos, mas todas com o traço comum da invulgaridade, da surpresa, da originalidade, do humor, da excentricidade, da extravagância – enfi, de alguma forma de singularidade.
A estas 366 histórias acrescentou-se uma, marcada pela efeméride: o episódio associado à falta de bandeira nacional na cerimónia de entrega de madalhas dos Jogos Olímpcios de Paris de 1924, há portanto cem anos. Tratava-se de um momento histórico para Portugal, por resultar da primeira conquista de medalhas olímpicas por atletas portugueses (no caso, os cavaleiros da equipa de hipismo classificada em terceiro lugar no concursod e obstáculos por equipas). O momento vivido um século atrás pelos quatro cavaleiros (Aníbal Borges de Almeida, José Mouzinho de Albuquerque, Luís Cardoso de Meneses e Hélder de Sousa Martins) e pelo chefe de equipa (Manuel Latino) ficou marcado pela decisão dos portugueses de não participarem na cerimónia caso não fosse solucionado o problema da falta de bandeira nacional para o protocolo da cerimónia.
Sabe-se que a decisão da equipa nacional levou ao atraso da cerimónia por cerca de uma hora, mas não se sabe a razão da falta da bandeira, uma vez que ela tinha sido usada no desfile da cerimónia de abertura. Sobre o assunto, o livro apresenta uma especulação, no texto da contracapa, em complemento da imagem de capa: a famosa fotografia do quinteto português (quatro cavaleiros e o chefe de equipa) participante nos Jogos Olímpicos de 1924.
A celebração dos 38 anos da AOP contou ainda com um momento de reconhecimento público da admissão de novos membros e registou numerosa presença de convidados, que lotaram o auditório do Comité Olímpico de Portugal, para além de muitas ligações de membros de academias olímpicas de outrs países que, no estrangeiro, seguiram a sessão via transmissão «on-line».
Entre os presentes na sala, nota para os primos Gonçalo e Francisca Carvalho Martins, bisnetos de Hélder de Sousa Martins, um dos componentes da equipa hípica de 1924, e que na ocasião mostraram a medalha conquistada pelo bisavô em Paris. A presença dos jovens descendentes do histórico cavaleiro de Portugal deu ensejo a um momento simbólico de recriação da entrega da primeira medalha olímpica a Portugal – em Paris 1924, Pierre de Coubertin tinha entregue as medalhas aos cavaleiros portugueses, na pessoa do capitão Manuel Latino; em 2024, a sobrinha-bisneta de Coubertin repetiu o momento, desta vez «oferecendo» a medalha a Gonçalo e Francisca.