Notícia  /  14.12.2021

Academia Olímpica discutiu em Portalegre as mudanças no Olimpismo

Quais as formas assumidas pela pressão a que os atletas estão sujeitos, sobretudo no nível de alto rendimento? Que mecanismos de defesa são adotados pelos atletas perante as diferentes exigências que o quotidiano de treino e de competição lhes coloca? Estas são algumas das perguntas que poderiam ter resposta na comunicação apresentada pela psicóloga Inês Vigário durante a cerimónia de abertura da 32.ª Sessão Anual da Academia Olímpica de Portugal, levada a efeito em Portalegre, de 3 a 5 de dezembro. Subordinada ao tema geral «Olimpismo em mudança», a sessão teve os trabalhos a decorrer no auditório do Museu da Tapeçaria de Portalegre – Guy Fino, ainda que a cerimónia de abertura tenha tido lugar no Centro de Congressos da Câmara Municipal de Portalegre, onde a oradora convidada dissertou sobre «A pressão sobre o atleta de alto rendimento». Na ocasião mencionou alguns dos casos mais mediáticos de atletas que enfrentaram dificuldades psicológicas associadas à prática desportiva e as tornaram públicas em declarações que despertaram a comunidade desportiva e os cidadãos em geral para a problemática das psicopatologias associadas à competição de alto rendimento.

Sendo o presidente da Federação Portuguesa de Atletismo (FPA), Jorge Vieira é também o líder federativo da modalidade que deu a Portugal todas as cinco medalhas olímpicas de ouro conquistadas por atletas nacionais. Foi na articulação dessa realidade com as circunstâncias de mudança vividas atualmente pelo desporto e pelo Olimpismo que Jorge Vieira dissertou em Portalegre, evocando personalidades marcantes do atletismo olímpico português, para destacar o papel dos clubes na deteção de atletas «de ouro», assim descobrindo filões para depois conduzirem a pepita até à condição de filigrana (ou seja, do atleta incipiente até tornar-se campeão). Na segunda parte da intervenção, Jorge Vieira caracterizou os nove pilares do modelo conceptual SPLISS relativo aos fatores da política desportiva que conduzem ao sucesso desportivo internacional. Por fim, o presidente da FPA referiu-se à relação entre as capacidades naturais do atleta e as condições de treino para se atingir o alto rendimento desportivo, concluindo ser fundamental a articulação enbtre as duas condicionantes para potenciar o sucesso desportivo.

Os cavaleiros Maria Caetano e João Torrão foram dois dos participantes portugueses nas provas de hipismo nos recentes Jogos Olímpicos de Tóquio, competindo na disciplina de ensino. Na sessão da AOP integraram a mesa-redonda que tratou do tema «Os desafios de ser olímpico», com moderação de outra atleta olímpica, Susana Feitor, participante sucessivamente nos Jogos de Barcelona-1992 até Pequim-2008. No debate entre os intervenientes tornou-se clara a especificidade da experiência olímpica, que se distingue de qualquer outra realidade de participação competitiva em qualquer nível de desempenho desportivo e em qualquer modalidade.

Finalizando os trabalhos da sessão anual, Luís Horta apresentou uma comunicação sobre um dos aspetos marcantes da fase de mudança que o desporto e o Olimpismo atravessam na atualidade, «O atleta transgénero», tema que só nos anos mais recentes tem sido objeto da atenção profunda dos agentes desportivos. O orador procurou esclarecer o conceito de transgénero, os diferentes procedimentos de mudança de sexo, as implicações físicas e psicológicas da mudança de sexo para as pessoas envolvidas e ainda as consequências sobre o rendimento desportivo que essas mudanças podem acarretar, em função da idade em que se verificam, apontando particularmente as diferenças entre os casos em que as mudanças têm lugar antes ou após a puberdade. A partir de casos conhecidos, Luís Horta mostrou-se desapontado com a norma adotada nesta matéria pelo Comité Olímpico Internacional, que, adeixando ao arbítrio das federações internacionais a regulamentação do assunto para cada modalidade, poderá originar disparidades e até situações de injustiça no tocante à participação de atletas transgénero na competição desportiva. Luís Horta considerou necessário garantir os direitos dos atletas transgénero, mas sem cair em erros que lhes proprorcionem vantagens indevidas, como a de entrar em provas como mulheres depois de terem sido homens até para lá da puberdade. Bom senso foi o princípio a que apelou, sublinhando a importância de analisar cada caso em separado.

Como é habitual, os trabalhos plenários após a cerimónia de abertura de sexta-feira iniciaram-se com duas apresentações sobre temas permanentes das sessões anuais. O presidente da AOP, Tiago Viegas, fez uma apresentação da Academia Olímpica de Portugal e da Academia Olímpica Internacional, sublinhando a missão de cada uma dessas entidades, na promoção dos valores associados ao Olimpismo e no estudo do fenómeno olímpico e destacou a oportunidade que a AOI oferece aos jovens interessados em conhecer o Olimpismo e o Movimento Olímpico através das sessões que todos os anos leva a efeito em Olímpia (na Grécia) com a presença de centenas de participantes de todo o mundo. O vice-presidente Gustavo Marcos centrou-se no longo historial de três mil anos de Olimpismo para dar nota sobre a origem, o desenvolvimento e o desaparecimento dos Jogos Olímpicos da antiguidade e o seu restabelecimento na era moderna. Referindo-se aos valores éticos associados aos Jogos Olímpicos modernos, assinalou a continuidade e as descontinuidades entre a antiguidade clássica e a modernidade na forma como são encaradas as celebrações olímpicas.

O programa da sessão incluiu ainda uma visita orientada ao Museu da Tapeçaria, oferecida a todos os participantes e conduzida pelos técnicos do museu, que deram a conhecer uma valiosa e rara coleção de tapeçarias produzidas segundo a técnica do ponto de Portalegre.

A 32.ª Sessão Anual da AOP contou com mais de meia centena de participantes, oradores e organização, com relevo para os estreantes, provenientes sobretudo do associativismo desportivo de Portalegre. A sessão resultou de uma parceria entre a AOP e a Câmara Municipal de Portalegre, com a colaboraçõa do Comité Olímpico de Portugal e da Comissão de Atletas Olímpicos.

VOLTAR

Partilhe