Notícia  /  08.03.2019

Na opinião de Tiago Nunes Viegas

O Desporto como ferramenta de promoção de valores

Atualmente muito se fala em crise de valores. Nas sociedades capitalistas, os bens materiais tendem a tornar-se valores supremos que influenciam as nossas decisões. Juntando a isso fenómenos sociais como o elevado desemprego, a instabilidade profissional, os conflitos sociais, o sedentarismo e a pobreza, facilmente podemos compreender a elevada descrença nos valores fundamentais que deveriam nortear as sociedades.

Os eventos desportivos tornaram-se lugar apetecível, de fácil acesso, onde os aspetos referidos, aliados às emoções clubísticas, têm gerado ocorrências que não são dignas da essência do desporto e que põem em causa o próprio conceito de desporto.

Este tema leva-me a recordar Nelson Mandela e o seu discurso na cerimónia de entrega dos Laureus Prémios Mundiais do Desporto em 2000, quando afirmou que o desporto "tem o poder de mudar o mundo", "o poder de inspirar" e "o poder de unir as pessoas". Nessa ocasião reforçou ainda que o desporto tem uma linguagem própria, que todos compreendem independentemente da sua classe social, das suas origens, crenças religiosas ou filiações ideológicas.

Mais do que pelas palavras, Nelson Mandela mostrou com as suas ações que através do desporto se consegue formar pessoas melhores e até mesmo sanar conflitos.

Aliás, na história do Movimento Olímpico temos diversas demonstrações de que o desporto é um fenómeno unificador, capaz de derrubar todas as barreiras, mesmo aquelas em que a diplomacia se torna ineficaz. Basta recordar os últimos Jogos Olímpicos de Inverno, em que, a pretexto da participação da Coreia do Norte, foi possível amenizar os aguçados ânimos entre esse país e os Estados Unidos da América. Ou a famosa e improvável amizade entre os atletas Jesse Owens e Luz Long, que, durante os Jogos Olímpicos de Berlim (em 1936), mesmo sendo rivais, não deixaram que a ideologia nazi se sobrepusesse aos laços que o desporto permitiu que fossem criados.

Mais casos e histórias haveria para contar!

É por isso importante combater o preconceito de que existe violência no desporto: existem, sim, pessoas que se servem do desporto para fazer uso de violência.

Este flagelo só se consegue combater através da Educação.

O desporto permite o treino de habilidades cognitivas impossíveis de treinar noutro contexto.

Na escola ou nos clubes, as crianças aprendem valores como a Cooperação, o Respeito, a Amizade, a Justiça, a Multiculturalidade, o Empenho ou a Excelência de forma lúdica e divertida. Estes valores, se forem ensinados desde cedo, vão contribuir para cidadãos mais ativos, saudáveis, motivados, educados e felizes. O oposto aos fenómenos sociais de que falei no início.

Infelizmente, muitos dos pais ainda não se encontram sensibilizados para esta realidade e não valorizam a necessidade de as crianças praticarem uma ou mais modalidades desportivas. Ao invés disso, estes mesmos pais contribuem para o elevado sedentarismo das crianças de hoje em dia, originando os mais variados problemas, como a obesidade, o défice de atenção, baixa capacidade de autonomia ou a imaturidade no desenvolvimento social.

Números assustadores de um estudo recente da Comissão Europeia mostram que 64 por cento dos adultos portugueses não praticam qualquer tipo de atividade física. Esta inatividade não ajuda a combater a falta de cultura desportiva de que tanto se fala atualmente e cuja construção iria sem sombra de dúvidas dar origem a uma população mais ativa, saudável, tolerante e inclusiva.

É por isso necessário que esta situação seja invertida!

Texto publicado na Tribuna Expresso, em 8/3/2019


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